Como aprender com as piores experiências?
- Camila Monteiro

- 10 de jun.
- 4 min de leitura

“…. Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá, é preciso dizer-lhes tudo de novo, ela lhes dirá, bem devagarinho, para que não esqueçam: o meu nome é esperança”. (Mário Quintana)
Olhem eu aqui, de novo, citando o nosso maravilhoso Mário Quintana, desta vez, falando de esperança. Apesar de já ter escrito alguns posts sobre as minhas aprendizagem sendo DV e de já ter falado sobre o lado bom da deficiência visual lá no Canal, resolvi trazer a aprendizagem como tema, mas, agora, de uma maneira um pouco mais profunda. Sempre tive, e ainda tenho, a esperança de que, em algum momento desta vida terei a chance de voltar a enxergar, mesmo que seja minimamente.
Claro que esta esperança não tem como base uma ilusão, não é algo fora da realidade, porque todos nós sabemos o quanto a medicina vem evoluindo e o quanto as pesquisas relacionadas não só à Oftalmologia, mas à várias outras especialidades estão trazendo respostas e possíveis soluções para tratamentos e doenças. Entretanto, preciso ser justa: quem tem qualquer tipo de deficiência sabe o quanto se aprende, querendo ou não.
No meu caso, independentemente de qualquer cura ou tratamento, posso dizer, com toda certeza, que nenhuma situação na minha vida me daria mais ensinamentos do que a deficiência visual. Então, não tenho como deixar de ser grata pela oportunidade de aprender tanto, mesmo que à “duras penas” Hoje visto, com muito mais frequência, as “sandálias da humildade”, entendendo que pedir ajuda não significa fraqueza, mas sim, que não preciso passar por tudo sozinha, sou mais tranquila, no sentido de não ter mais pressa, e dou muito mais valor aos momentos que vivo e às pessoas que me rodeiam.
Sendo assim, partindo destas reflexões, compartilho com vocês as respostas para a seguinte pergunta: caso eu volte a enxergar, quais hábitos da deficiência visual eu vou manter na minha vida? Afinal, aprendizagem de verdade é isto, né? Fica com a gente, pra sempre. Bora descobrir? ,
“…. Perdi você, não tente entender, ainda te amo, perdi você, sem razão, sem querer….”
Usar os outros sentidos para enxergar o mundo: já falei disto aqui no blog, algumas vezes, mas, acho importante repetir. Quando usamos só a visão para conhecer lugares, pessoas, espaços, para apreciar momentos em geral, reagir em situações de perigo, memorizar algo, fiscalizar situações, dentre tantas outras coisas, perdemos muito. Acredito que o maior prejuízo disto é a falta de estímulo que damos ao nosso cérebro, deixando-o totalmente dependente da visão.
O treinamento dos demais sentidos para o conhecimento e reconhecimento das coisas e pessoas no dia a dia, normalmente, vem com a necessidade: ou quando a gente perde um dos sentidos, a audição ou a visão, por exemplo, ou quando fazemos aqueles exames de dilatação de pupila, que nos deixam com a visão comprometida, ou quando estamos com uma conjuntivite ou uma otite, etc. Que lástima!
Nestas situações, ficamos perdidos e parece que não vamos conseguir nos virar, ou que vamos cair, ou temos a sensação de que estamos correndo risco, cheios de insegurança, ansiedade, angústia e até pavor, em alguns momentos. Tudo isto seria reduzido há quase zero se tivéssemos o hábito de treinar todos os nossos sentidos, afinal, não é à toa que temos cinco, e não só um ou dois. É óbvio que quando enxergamos, usamos muito mais a visão para perceber o mundo, e, se eu pudesse escolher, mesmo aprendendo tudo que eu aprendo com a deficiência visual, eu escolheria voltar a enxergar.
Mas, isto não significa que tenhamos que usar somente os olhos para enxergar o que está ao nosso redor. Coisas como fechar os olhos enquanto está sentado em uma praça ou em um parque para ouvir melhor o barulho da natureza, como o vento, os pássaros, e sentir o cheiro disso tudo, memorizar uma letra de música sem ler, somente escutando, ler um livro com os ouvidos, assistir a programas, séries e filmes com os olhos fechados e tentar adivinhar que atores estão falando. Reconhecer pela voz as pessoas que estão no mesmo espaço em alguma reunião familiar ou de amigos, andar pela casa, de olhos fechados, reconhecendo os espaços, para quando faltar luz, por exemplo, saber onde estão as coisas, provar comidas e bebidas e descobrir os ingredientes ou os nomes dos pratos, dos sucos, ou dos drinks.
Reconhecer os lugares das coisas através do tato, são alguns exemplos de exercícios que podem e devem ser feitos pra lembrar o cérebro de que os outros sentidos também existem e são fundamentais. Então, vidente querido, aproveita esta benção e continua firme usando a visão para explorar este mundo lindo! Porém, segue a dica desta DV que já esteve no teu lugar: usa, mesmo não precisando, todos os recursos gratuitos disponíveis no teu corpinho. Se não sabe usar, aprende. É um desperdício ficar na zona de conforto tendo tanto a oferecer.







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